sábado, 29 de setembro de 2012

Dia de lei abolicionista relembra força de movimentos populares


(Por Audrey Morais, Luciana Rodrigues,
Marcela Cavalari e Pedro Henrique Landim)

Há 141 anos, o Brasil dava o primeiro passo para o fim da escravidão: era assinada a Lei do Ventre Livre. Ela garantia que todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela data seriam homens livres (mesmo que seus pais ainda continuassem escravos). Essa lei ajudou para que, exatos 14 anos depois - em 28 de setembro de 1885, entrasse em vigor a Lei dos Sexagenários (os escravos com mais de 60 anos estariam livres a partir daquele dia).

Apesar de ainda não representar, naquela época, o fim da escravidão, elas representam um ponto importante na história: uma lei criada a partir de uma demanda da sociedade daquele período, influenciada pelas ideias liberais abolicionistas e republicanas.

Hoje, quase um século e meio depois, as reivindicações da sociedade se transformaram radicalmente. As mulheres passaram a trabalhar, a escravidão foi abolida, uma ditadura começou e terminou, um presidente sofreu impeachment, entre tantas outras mudanças em que manifestações populares estiveram na pauta.

Cláudia Lahni, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora cita alguns grupos que, na sua opinião, hoje se destacam mais na busca de seus direitos e suas principais lutas: homossexuais e negros.

Muitas vezes os anseios da sociedade se chocam com estruturas políticas ou com questões de outros grupos majoritários. Homossexuais x conservadores religiosos é apenas um desses conflitos. Outras demandas também não são plausíveis ou, devido a formação social que temos hoje, se tornam inviáveis. Confira no vídeo a explicação de Wedencley Alves, professor da Faculdade de Comunicação da UFJF, que também aborda outros grupos importantes que lutam por transformações, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pela reforma agrária, os ambientalistas por um novo Código Florestal mais consciente,entre outros:



A professora da UFJF também acredita que muitas mudanças são "emperradas" pelas estruturas sociais que temos hoje, pois, na sua opinião, não há interesse por parte de alguns grupos que as situações atuais sejam transformadas. Ela também acredita que, comparando com o momento da abolição da escravatura, hoje esse levantamento de temas para mudanças sociais é mais democrático.

Cláudia Lahni 02 by Lu Rodrigues 3


Região também tem destaque em lutas populares
Juiz de Fora tem a presença de diversos grupos e coletivos engajados em lutas populares. Um deles é o Maria Maria, que defende os direitos da mulher, combatendo o machismo e a violência. Para Carina Luiza Scaldini, integrante do coletivo, apesar dos avanços na divulgação das causas feministas, ainda há muito o que conquistar.
"No geral, a efetiva liberdade da mulher ainda precisa ser alcançada. Ainda vivemos em uma sociedade machista, homofóbica e racista; e ainda temos organizações que sustentam preconceitos, como a mídia. A liberdade que eu falo é a de sermos verdadeiramente reconhecidas como cidadãs, com voz, participação nos espaços públicos, igualdade no mundo do trabalho, na economia, na política."
Outro grupo que se destaca na defesa de segmentos da sociedade é o Movimento Gay de Minas (MGM). A pressão do movimento e da população juizforana fez com que fosse criada a "Lei Rosa" - a primeira lei anti-homofobia do país. Eles almejam não só levar essa lei para todo o país, mas também garantir a regulamentação do casamento civil (hoje um casal homossexual precisa entrar na justiça para conseguir o direito ao reconhecimento da união).

Ambos os grupos compreendem que há resistências que impedem que as suas reivindicações sejam atendidas. Porém, apostam no apoio popular para que haja uma pressão maior para mudanças. É o que diz Oswaldo Braga, fundador do MGM.
"São os movimentos sociais que mantém uma interlocução com o governo. São eles que pressionam, que abrem as oportunidades de se promover ações afirmativas que equiparem as oportunidades de direitos, o acesso aos serviços e o exercício da cidadania. Nos últimos anos, temos assistido a incorporação dos movimentos sociais na máquina governamental, o que tem induzido o silêncio e o controle das organizações da sociedade civil. Notadamente esse controle se dá através do financiamento de projetos e ações que criam e sustentam uma fidelidade artificial baseada em dinheiro. Apesar disso, os movimentos sociais não podem prescindir de estar junto aos governos, em suas três esferas, fazendo seu advocacy e conquistando espaços que conduzam ao avanço da sua causa." 
 Carina Scaldini também ressalta a importância de se ter um bom relacionamento com o governo, a fim de conseguir mais conquistas para o grupo feminista.
"Acredito que os movimentos sociais devem permanecer em um relacionamento estreito com o governo (seja ele municipal, estadual ou federal), pois além de combatermos o machismo precisamos do crescimento do nosso país e da criação de políticas públicas voltadas para as mulheres, políticas essas que sirvam para dar autonomia para as mulheres." 

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